(Título original: The frog king or Iron Henry)
Conto de fadas popularizado pelos Irmãos Grimm
Traduzido e adaptado por Marlo George
Muito tempo atrás, na época em que os sonhos podiam se tornar realidade, viveu um rei cujas filhas eram todas muito belas, mas a mais nova era tão bonita que o próprio sol, que já havia visto de tudo um pouco, perguntava-se, de vez em quando, se brilhava apenas por causa de sua beleza. Próximo ao castelo real ficava um grande bosque sombrio, e nele, debaixo de uma velha tília, havia uma fonte. Quando os dias estavam quentes, a filha caçula do rei costumava ir até o bosque para sentar-se à beira da fonte e, se tivesse bastante tempo, ficava brincando de jogar uma bolinha dourada para cima e para baixo. Esse era seu passatempo favorito.
Mas eis que um dia, a bola dourada, ao invés de cair de volta na pequena mão da donzela, que a havia atirado bem alto, rolou pelo chão até a beira da fonte e caiu lá dentro. A filha caçula do rei foi até a fonte e a procurou, mas esta era profunda, tão profunda que não era possível enxergar o fundo. Então ela começou a chorar. Chorou e chorou como se nada pudesse confortá-la. No meio da choradeira, ela ouviu uma voz vinda da fonte, que lhe disse:
"O que te afliges, filha caçula do rei? Suas lágrimas poderiam destruir um coração de pedra."
Quando ela olhou para ver à quem pertencia aquela voz, não havia nada além de um sapo esticando a cabeçorra feia para fora da água.
"Oh, foi você, velho saltador?", disse ela.
"Estou chorando porque minha bolinha dourada caiu na fonte".
"Deixe isso pra lá e não chores mais!", respondeu o sapo.
"Posso ajudá-la! Porém, o que me darás em troca se eu trouxer sua bolinha dourada?"
"O que desejares, querido sapo", disse a Princesa.
"Qualquer de minhas vestes, pérolas ou jóias. Até mesmo minha coroa dourada".
"Mas suas roupas, pérolas ou jóias não me servem," disse o sapo,
"mas se você me amar e me quiser como seu companheiro, se permitir que me sentes ao seu lado na mesa para comer de seu prato e beber de sua taça, e ainda dormir em sua cama, se puder me prometer tudo isso, então mergulharei até o fundo da fonte e trarei sua bolinha dourada de volta."
"Sim! Prometo-lhe tudo isso, o que você quiser, se trouxer minha bolinha dourada de volta", respondeu a Princesa, pensando consigo mesma:
"Quanta bobagem. Como se esse sapinho pudesse fazer algo mais que nadar e coaxar com outros sapos. Isso se tiver alguma companhia."
O sapo, assim que ouviu o que lhe foi prometido, enfiou a cabeçorra na água e sumiu na profundeza da fonte, até que inesperadamente voltou para a superfície com a bolinha dourada na boca. Cuspiu-a no gramado. A filha caçula do rei ficou muito contente ao rever seu brinquedo de novo, pegou-o do chão e partiu.
"Parada! Você tem que me levar também", ordenou o sapo,
"Eu não consigo correr tão rápido quanto você". Mas foi em vão, pois para ela aquilo que saia de sua boca não passava de um coaxo. O sapo tentou segui-la, enquanto pode, mas a princesa o deixou para trás e logo se esquecera do pobre sapo, que teve que voltar sozinho para sua fonte.
No dia seguinte, quando a filha caçula do rei sentou-se à mesa com seu pai e toda sua corte, comendo em seu prato dourado, ouviu alguém subindo a escada de mármore e, logo depois, batendo na porta.
"Deixe-me entrar, jovem filha do Rei", dizia uma voz chorosa. Ela levantou-se e foi correndo para ver quem poderia ser, porém, quando abriu a porta viu que só havia um sapo, sentado, do outro lado da porta. Ela bateu a porta com força e voltou para o seu assento, sentindo-se muito desconfortável. O Rei notou o quão forte seu coração batia, e perguntou-lhe:
"Minha filha, do que você está com medo? Há um gigante do outro lado da porta, pronto para raptá-la?".
"Não", respondeu a princesa,
"Apenas um sapo horroroso".
"E o que esse sapo horroroso poderia querer com um a princesa?"
"Oh, querido papai, como de costume, estava eu ontem sentada perto da fonte que fica no bosque, brincando com minha bolinha dourada, quando ela caiu no fundo da fonte. Eu chorei muito e, enquanto ainda pranteava, esse tal sapo trouxe minha bolinha dourada de volta com a condição de que eu me torna-se sua companheira. Eu jamais imaginaria que ele iria deixar a fonte e vir até aqui. Agora, ele está lá do lado de fora, e deseja entrar", contou a princesa. Assim que ela terminou, todos da corte ouviram o sapo bater mais uma vez na porta.
"Jovem filha do rei,
Abra para mim
Nas águas da fonte o que me prometeste?
Jovem filha do rei
Abra agora"
Prometo, não irás arrependestes"
"Aquilo que você prometeu, você deve cumprir", disse o rei,
"Então, vá lá, abra a porta e deixe-o entrar". Obediente, a princesa foi até o portão e deixou o sapo entrar. Ele a seguiu, não era mais alto que seu salto, acompanhando-a até que a princesa sentou-se em sua cadeira. Então ele parou e ordenou:
"Levante-me para que possa me sentar ao teu lado". Ela não se moveu até que o próprio rei a obrigou a obedecer o comando do sapo. Uma vez na cadeira, o sapo pulou na mesa e disse:
"Agora, traga o seu prato dourado até aqui e assim poderemos comer juntos". Assim ela o fez, mas todos viram o quão contrariada ela estava. O sapo gulosamente comeu, mas cada pedaço que a princesa punha na boca parecia não passar pela goela, tamanho o nojo que sentia.
"Já comi o suficiente," disse o sapo,
" e como estou cansado, deves levar-me até seu quarto. Prepare sua cama com um lençol de seda. Lá nos deitaremos e dormiremos um pouco". A filha caçula do rei começou a chorar e ficou com medo do frio sapo, que não se satisfaria com mais nada, além de deitar-se em sua bela e limpa cama. O rei enfureceu-se com ela e disse:
"Isso foi o que você prometeu em um momento de necessidade, agora deves cumprir". Assim, ela pegou o sapo com seu dedinho, carregando-o escada acima e deitando-o em sua cama. Enquanto ela esperava o sono chegar, o sapo foi até ela, rastejando, e disse:
"Estou cansado, mas não consigo pregar os olhos. Quero dormir com você, levante-se ou irei contar sua desobediência para seu pai". Nessa hora, a princesa se irritou, agarrou o sapo sem nenhum cuidado, e atirou-o na parede:
"Agora fique quieto, seu sapo horroroso".
Porém, quando o sapo caiu no chão, deixou de ser um sapo e se transformou em um príncipe com olhos muito belos e gentis. O que sucedeu-se foi que, com o consentimento do rei, eles noivaram. O príncipe contou à filha caçula do rei que uma bruxa havia lhe conjurado um feitiço, e que apenas ela, a caçula do Rei, poderia libertá-lo do encanto, para que então os dois pudessem ir até o Reino de seu pai. Assim, veio até eles uma carruagem puxada por oito cavalos brancos, todos com plumas nas cabelas e atrás da carruagem estava Henrique, o fiel servo do jovem príncipe. O fiel Henrique havia sofrido tanto quando seu mestre foi transformado em sapo que seu coração foi revestido com três malhas de ferro para que não quebrasse por conta de tamanho sofrimento e ansiedade. Quando a carruagem começou a se preparar para levar o príncipe para seu reino, Henrique, o fiel, ajudou o casal a subir nela e se regozijou ao ver que seu mestre havia sido libertado do feitiço.
Quando eles já tinham avançado por boa parte do caminho até o reino, o príncipe ouviu um som vindo da parte de trás da carruagem, como se algo tivesse sido quebrado. Ele virou-se e disse:
"Henrique, meu servo fiel e amigo, a roda deve ter quebrado!"
"A roda não quebrou," disse Herinque
" foi uma das malhas de ferro que trago no peito. Para diminuir minha dor, quando me afligi por seu destino e maldição, eu amarrei meu coração"
De novo, e depois mais uma vez, o som voltou a ser ouvido. O príncipe, novamente, pensou ser a roda quebrando, mas eram as malhas de ferro do coração de Henrique, o fiel, que agora, estava aliviado e feliz.
FIM
Fonte:
Grimmstories.com
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