Conto de fadas popularizado por Peter Christen Asbjørnsen e Jørgen Moe
Tradução e adaptação por Marlo George
Ilustração de Theodor Kittelsen (1857 – 1914)
Houve uma vez um Rei que se tornou viúvo. A Rainha havia lhe deixado uma filha, que era tão esperta e amável que não havia nenhuma outra Princesa tão esperta ou amável quanto ela em todo o mundo. O Rei passou muito tempo sofrendo pela morte da Rainha, que ele amava muito, mas por fim cansou-se da solidão e casou-se com outra Rainha, que também era viúva e, como ele, também tinha uma única filha. Mas essa Princesa era má e feia, tanto quanto a outra era esperta e amável. Enquanto o Rei esteve por perto, a madrasta e sua filha não ousaram causar nenhum mal à Princesa legítima, porque sabiam que o Rei a amava muito.
Porém, após um tempo, o Rei declarou guerra à outro Reino, e foi para o campo de batalha com seu exército, e então a madrasta viu que poderia fazer o que quisesse. Por fim, a madrasta e sua filha bateram e não alimentaram a Princesa, e a caçavam em canto e buraco da casa. Como se isso não fosse o bastante, ordenaram que ela cuidasse do gado. Assim, lá foi a Princesa cuidar do gado, conduzindo-o pelo pasto. Para comer, muito pouco ou quase nada lhe era enviado, e ela cresceu magra e abatida, e estava sempre triste e choramingando. No rebanho havia um touro enorme, que sempre estava muito limpo e elegante. De vez em quando, ele vinha até a Princesa e a deixava acariciá-lo. Um dia, quando ela estava sentada no pasto, soluçando e triste, ele foi até ela e perguntou-lhe porque ela estava sempre tão tristonha. Ela nada respondeu, pois começou a chorar.
‘Oh!’ disse o touro, ‘Apesar de não me contar, eu sei muito bem o porque de toda a ssua tristeza; choras porque a Rainha é má contigo e pretende deixá-la morrer de fome. Mas não precisa se preocupar com comida, porque por detrás de minha orelha esquerda tem uma toalha de mesa, e quando você pegá-la e esticá-la terá toda a comida que desejares.’
Então a Princesa pegou a toalha de mesa, esticou-a na grama e, como mágica, ela foi servida com tantos pratos quando podia desejar. Havia vinho, hidromel e bolo doce. Ela logo sentiu-se bem novamente, renovada, gorda e rosada, tanto que a Rainha e sua filha horrenda ficaram verdes de raiva e despeito. A Rainha não podia imaginar como sua enteada poderia estar tão bem apresentável nas condições em que vivia. Assim, ordenou que uma de suas empregadas a seguisse até o bosque, para ver como isso se dava, pois acreditava que um dos servos do palácio poderia estar levando comida para ela. Então a empregada a seguiu e viu quando a Princesa pegou a toalha de mesa da orelha do touro e esticou-a no chão, servindo-se fartamente e brindando. Contou tudo para a Rainha assim que chegou no castelo.
Um dia, o Rei retornou dos campos de batalha, ele tinha vencido a guerra contra o Reino inimigo. Houve muita festa no castelo e quem estava mais feliz era sua filha legítima, a Princesa. Mas a Rainha fingiu estar doente, e de seu leito, deu ao médico da corte uma grande soma de dinheiro para que este dissesse que ela nunca mais ficaria curada se não fosse alimentada com um bom pedaço de carne de touro. Ambos, os plebeus e a filha do Rei perguntaram ao médico se não havia um outro meio de curá-la, preocupados com o destinho do touro do pasto, que era amado por todos, uma vez que não havia nenhum outro de sua espécie em todo o Reino. Mas tudo foi em vão, o touro seria sacrificado e não havia nada que pudesse ser feito. Quando a Princesa ouviu o decreto do médico, ficou muito triste, e foi até o touro, no pasto. Quando ele a viu, ficou de pé e abaixou a cabeça, mas parecia tão tristonho que a Princesa começou a chorar.
‘Por que choras?’ perguntou-lhe o touro.
Então ela lhe contou tudo sobre a chegada do Rei, a doença da Rainha e que o médico determinou que ela só se recuperaria se comesse um bom pedaço de carne de touro, e que, por causa disso, ele seria abatido.
‘Se eles me matarem’, disse o touro, ‘logo a matarão também. Porém, se concordar comigo, podemos deixar o reino juntos e fugir à noite.’
Bem, a Princesa achou que seria muito ruim deixar seu pai, mas que seria pior ainda ter que conviver com a Rainha no castelo; então deu sua palavra ao touro e prometeu fugir com ele.
De noite, quando todos já tinham se posto a dormir, a Princesa foi até o pasto e subiu nas costas do touro, e fugiram do Reino o mais rápido que puderam. No dia seguinte, quando os plebeus levantaram-se ao canto do galo, para ir ver o touro ser abatido, notaram que ele não estava mais no pasto. Quando o Rei deu falta de sua filha, perguntou por ela e viu que ela também tinha sumido. Ele enviou mensagens à todos os cantos do Reino, ordenando uma caçada aos dois. Foram informadas todas as igrejas e paróquias, mas não havia ninguém que os tivesse visto. Enquanto isso, o touro cruzou muitos Reinos com a Princesa em suas costas, até que um dia eles chegaram até um grande bosque de cobre, onde tudo, árvore, folhas, flores, e tudo mais eram de cobre.
MAs antes deles entrarem no bosque, o touro disse para a Princesa:
‘Agora, quando entrarmos no bosque, lembre-se de não tocar em nem mesmo uma folha de lá, caso contrário, um Troll que tem três cabeças, e que é o dono deste bosque, ficará sabendo de nossa presença.’
‘Pode deixar.’ prometeu a Princesa. Ela tomaria cuidado e não tocaria em nada. Bem, ela foi muito cuidadosa, e se agachou assim que passaram por um ramo que caiu em sua direção. Tentou tirá-lo gentilmente do caminho, mas era tão pesado que era quase impossível fazê-lo. Apesar de aplicar toda sua força, de alguma forma, ela arrancou uma das folhas, que ficou em sua mão.
Tão logo eles alcançaram o final do bosque de cobre, viram um Troll de três cabeças correndo em sua direção:
‘Quem foi aquele que tocou em meu bosque?’ perguntou o Troll.
‘Este bosque é tanto meu, quanto seu’, disse-lhe o touro.
‘Ah!’ rosnou o Troll, ‘então teremos que lutar.’
‘Como quiseres’, disse o touro.
Então correram um contra o outro e lutaram; e o Touro bateu, mordeu e chutou com toda a sua força; mas o Troll devolveu com fúria tudo que o urso havia lhe dado, e a batalha durou a noite toda, até que, enfim, o Touro venceu o Troll. Mas ele estava tão cheio de feridas e desgastado que não conseguia mover mais nem mesmo uma perna. Então, foram forçados a ficar lá no bosque durante todo o dia seguinte para que o Touro pudesse se recuperar da batalha. O Touro pediu que a filha do Rei pegasse uma corneta que estava pendurada no cinto do Troll e esfregasse-a em seu corpo. Assim que a Princesa fez o que o Touro havia pedido, o bovino sentiu-se recuperado e, no dia seguinte, os dois voltaram a viajar. Foram muitos dias de caminhada, até que chegaram à um bosque prateado, onde as árvores, folhas, flores e tudo mais era prateado.
Antes de entrarem no bosque, o Touro disse para a Filha do Rei:
‘Agora, quando entramos neste bosque, por tudo que é mais sagrado, precisa ter muito cuidado; Não deves tocar em nada, nem mesmo arrancar uma única folha, senão uma desgraça cairá sobre nós, pois aqui vive um Troll de seis cabeças, que é o dono deste lugar, e que eu não acredito ser capaz de derrotar.’
‘Não’, disse a Filha do Rei; ‘E irei ter muito cuidado, e não tocarei em nada que você não quiser que eu toque.’
Mas quando eles entraram no bosque, ele era tão apertado e com caminhos tão estreitos, que eles mal podiam passar juntos. Ela foi muito cuidadosa, tão cuidadosa quanto pôde, mas haviam muitos ramos, porém, todos ela delicadamente tirou de seu caminho. Porém, à cada minuto, mais ramos surgiam e espetavam seus olhos, apesar de suportar a dor, sem querer, acabou arrancando uma folha.
‘MU! MU! O que foi que fizestes agora?’ perguntou o Touro. ‘Agora não nada mais que se possa fazer, à não ser lutar por nossas vidas contra este Troll de seis cabeças, que é duas vezes mais forte que o anterior, mas mantenha essa folha à salvo. Guarde-a com cuidado, e não ouses perdê-la.’
Assim que o Touro terminou de dizer isso, apareceu o Troll:
‘Quem foi aquele que tocou em meu bosque?’, perguntou o Troll.
‘Ele é tanto seu, quanto meu’, afirmou o Touro.
‘Então teremos que lutar’, rosnou o Troll.
‘Como quiseres’, disse o Touro, precipitando-se contra o Troll, arrancado seus olhos e acertando-o com seus chifres, de modo que suas entranhas se esparramaram; mas o Troll era páreo para o Touro, e a luta durou três dias inteiros, até que o Touro pudesse tirar a vida do Troll. Mas o Touro terminou a luta fraco e miseravelmente desgastado, de modo que não conseguia mexer um membro sequer; e o sangue fluía de seu corpo. Então ele pediu que a Filha do Rei esfregasse a corneta que o Troll trazia na cintura em seu corpo ferido. Ela o fez, e ele recuperou-se mais uma vez; mas eles foram forçados a esperar uma semana para que o Touro recarregasse todas as suas energias, para então seguirem em frente.
Após uma semana, partiram. Mas o Touro ainda estava fraco, então seguiram mais devagar dessa vez. Para ganharem tempo, a Filha do Rei disse para o Touro que poderia muito bem andar, pois era jovem e tinha os pés em condições para isso. Mas ela não foi muito longe à pé, e acabou tendo de voltar para o lombo do Touro. Assim, eles viajaram e atravessaram muitos Reinos, durante muito tempo, e a Filha do Rei não sabia mais para onde estavam indo, até que chegaram à um bosque dourado. Era imenso, e o ouro pingava de cada galho. Todas as árvores, ramos, folhas e flores eram de ouro puro. Lá, aconteceu a mesma coisa que havia acontecido nos bosques de cobre e prata.
O Touro pediu que a Filha do Rei não tocasse em nada, pois lá havia outro Troll, com nove cabeças, que julgava ser o dono do bosque dourado. Era maior e mais forte que os outros dois Trolls juntos; e ele não achava que estaria pronto para dar o melhor de si.
Ela assegurou que não tocaria em nada, mas quando eles entraram no bosque, notaram que este era ainda mais estreito que o último, e quanto mais avançavam, pior ficava sua situação. O bosque tornava-se mais estreito e estreito, apertado e apertado; logo a Princesa achou que não haveria uma maneira de atravessá-lo. Assustada, ela começou a afastar os ramos, pra lá e pra cá, mas os ramos insistiam em ferir seus olhos. Aquilo estava atrapalhando sua visão e ela logo não sabia mais em que estava tocando, então sem que visse, tinha em suas mãos uma maçã de ouro. Sentiu-se tão amargamente sem sorte, que começou a chorar e teve vontade de atirar a maçã dourada longe. Mas o Touro disse que ela deveria manter a maçã em seu poder, e guardá-la da melhor maneira que pudesse; pois achava que seria a batalha seria dura, e que ele não sabia como aquela história terminaria.
Então, apareceu o Troll de nove cabeças, e era tão feio que a Filha do Rei mal conseguia encará-lo.
‘QUEM FOI AQUELE QUE TOCOU EM MEU BOSQUE?’ rosnou o Troll.
‘Esse bosque é tanto meu, quanto seu’, disse-lhe o Touro.
‘Então teremos que lutar’, rosnou, novamente, o Troll.
‘Como quisestes’, disse o Touro; eles partiram um em direção ao outro; e lutaram, e esta foi uma batalha tão aterrorizante, que a Filha do Rei por pouco não desmaiou. O Touro arrancou os olhos do Troll, e riscou seus chifres em seu corpo, fazendo suas entranhas se esparramarem; mas o Troll lutava bravamente; e quando o Touro tinha deixado o Troll com apenas uma cabeça ainda viva, as demais voltaram à vida novamente, e isso durou uma semana inteira, até que o Touro pudesse arrancar a vida de todas as cabeças do Troll. Mas ele estava novamente desgastado e miserável. Não conseguia mexer uma perna, e seu corpo estava ferido. Não podia fazer quase nada, à não ser pedir que a Filha do Rei pegasse a corneta que estava pendurada no cinto do Troll e esfregasse-a em seu corpo ferido. ela fez o mesmo que já tinha feito antes, nos bosques de cobre e prata, e novamente o Touro sentiu-se recuperado. Eles ficaram deitados ali por três semanas, até que o bovino estivesse em condições de seguir viagem outra vez.
Então partiram em ritmo lento, pois o Touro disse-lhe que ainda havia um longo caminho pela frente, e assim cruzaram várias colinas e florestas espinhosas, e enfim, chegaram ao seu destino.
‘Consegue ver alguma coisa?’ perguntou o Touro.
‘Não, não consigo ver nada, além do céu e da neblina’, respondeu a Filha do Rei.
Então eles subiram um pouco mais alto e a neblina se desfez, e eles puderam ver mais longe.
‘Consegue ver alguma coisa agora?’ perguntou o Touro.
‘Sim, Posso ver um pequeno castelo, bem longe’, disse a Princesa.
‘Ele não é tão pequeno’, disse o Touro.
Após um longo,longo tempo, eles chegaram até um grande amontoado de pedras, que formavam uma parede, num trecho da estrada onde um pouco de neblina ainda atravessa seu caminho.
‘Pode ver alguma coisa agora?’ perguntou o Touro.
‘Sim, Agora posso ver o castelo bem de perto’, disse a Filha do Rei, ‘e agora ele parece ser bem maior.’
‘É pra lá que deves se dirigir’, disse o Touro. ‘Do lado direito do castelo há um chiqueiro, onde você irá morar. Quando chegar lá, encontrará um capuz feito com ripas de madeira; coloque-o e vá até o castelo. Diga que seu nome é “Katie Capuz-de-Madeira”, e peça um lugar para morar. Mas antes de ir, você deve tirar seu canivete e arrancar minha cabeça. Depois deve me esfolar e enrolar minha pele, e forrá-la debaixo daquela parede de pedra, que está logo ali. Lá você deves deixar a folha de cobre, a folha de prata e a maçã de ouro. Encostado na parede de pedra você encontrará um cajado; sempre que desejares algo, deves apenas bater com o cajado contra a parede de pedras.’
Primeiramente, ela não quis fazer nada daquilo; mas quando o Touro disse-lhe, que esse era o único modo que ela teria para agradecer-lhe pelo que ele fez por ela, a Princesa não pode negar o pedido. Então, por mais que isso machucasse seu coração, ela puxou o canivete e apunhalou a grande besta. Assim ela tinha sua cabeça e sua pele, e então a esticou debaixo da parede de pedras, colocando lá também a folha de cobre, a folha de prata e a maçã de ouro dentro dela.
Assim que ela fez isso, foi até o chiqueiro, mas durante todo o caminho ela chorou, e chorou. Chegando no chiqueiro, vestiu-se com o capuz de madeira, e então foi até o castelo. Quando chegou na cozinha real, pediu por um lugar para morar, e disse que seu nome era Katie Capuz-de-Madeira. Sim, disse o cozinheiro, que informou-lhe ainda que ela poderia ficar na copa, e trabalharia lavando a louça, já que a menina que fazia isso tinha ido embora.
‘Mas assim que estiver cansada de ficar aqui, pode seguir seu caminho. Eu ficarei grato.’
Não; ela sabia que não faria isso.
Assim lá ela ficou, se comportando bem e lavando os pratos com agilidade. No domingo, após receberem estranhos convidados no palácio real, Katie perguntou se poderia carregar baldes para o banho do Príncipe; mas todos riram dela, e disseram:
‘O que você faria lá? Achas que o Príncipe iria olhar para você, você é um tanto quanto assustadora!’
Mas ela não desistiria assum tão fácil, e continuou implorando. Obteve permissão. Enquanto subia as escadas, seu capuz de madeira chacoalhou, e o Príncipe veio ver o que era, e lhe perguntou:
‘Quem é você?’
‘Oh! Eu apenas estava indo levar água para o banheiro de Vossa-Alteza’, disse Katie.
‘O que você está pensando’, disse o Príncipe, ‘ Que eu não tenho serventia para esta água que está carregando?’ e com isso, pegou a bacia e derramou a água em Katie.
Ela teve que aguentar aquilo, e depois, pediu licença para ir até a igreja. Deixou o Palácio e foi em direção à igreja, Mas antes, ela bateu com o cajado na parede de pedras, conforme o Touro lhe recomendou. Logo, um homem apareceu, e disse-lhe:
‘O que desejas?’
Então a Princesa contou-lhe que tinha que ir à igreja, para ouvir o sermão do Padre, mas não tinha roupas apropriadas para a ocasião. Ele lhe trouxe um vestido, que era brilhante como o bosque de cobre, e também um cavalo com uma sela. E assim, quando ela chegou à igreja, estava tão bela e altiva, que todos perguntaram-se quem ela poderia ser. Alguns sequer ouviram o sermão do Padre, de tanto que olhavam para ela. Quanto ao Príncipe, ele apaixonou-se por ela, e não foi capaz de tirar seus olhos daquela beldade, por sequer um segundo.
Depois do sermão, quando ela já ia deixar a igreja, o Príncipe veio correndo e abriu o portal para que ela passasse; para depois pegá-la pela mão enluvada. Ela se soltou, deixando a luva na mão do Príncipe. Já ia partir, montada em seu cavalo, quando o Príncipe perguntou de onde ela teria vindo.
‘Oh! Do Banheiro, é de lá que eu vim’, disse Katie; e quando o Príncipe ia entregar-lhe a luva de volta, ela disse:
Brilhante antes, mas sombrio ao conhecer,
As nuvens no vento à rolar;
Que este Príncipe jamais saibas,
Pra onde meu alazão irá me levar.
O Príncipe nunca tinha visto uma luva como aquela, e correu pra lá, e pra cá, procurando pelo Reino para onde a aquela orgulhosa dama teria ido sem a sua luva, mas ninguém soube lhe dizer onde ficava o Reino de ‘Banheiro’.
No domingo seguinte, precisavam que alguém levasse para o Príncipe uma toalha.
‘Oh! Deixe que eu mesma levo?’ disse Katie.
‘O que isso tem de bom?’ perguntaram os outros servos; ‘você se lembra muito bem do que aconteceu da última vez.’
Mas Katie não desistiu e continuou implorando, até que deram-lhe permissão de ir levar a toalha para o Príncipe; então ela subiu as escadas e seu capuz, novamente, chacoalhou bem alto. O Príncipe veio ver o que era, e quando viu Katie, tomou a toalha de sua mão e bateu com ela em seu rosto.
‘Saia já daqui, seu Troll horroroso’, gritou; ‘Achas que eu usaria uma toalha tocada pelos seus dedos imundos?’
Assim que o Príncipe saiu para ir para a Igreja, Katie pediu permissão para ir ao sermão também. Todos perguntavam-se o que tanto ela queria ir fazer na igreja, uma vez que não tinha nada com o que se vestir, além daquele capuz de madeira sujo e escuro. Katie disse que os sermões do Padre lhe faziam tão bem, que obteve permissão para ir. Porém, antes de ir até a igreja, foi até a parede de pedra e bateu nela com o cajado. O homem surgiu novamente, e deu-lhe um vestido tão belo quanto o anterior, mas este era todo prateado, e brilhava como o bosque de prata; ofereceu também um cavalo nobre, com sela e esporas prateadas.
Então, quando a Filha do Rei chegou à igreja, o povo estava parado no jardim da paróquia. E todos ficavam imaginando, e imaginando quem ela seria, enquanto o Príncipe, que já estava por ali, foi até ela, pois pretendia ajudá-la a descer do cavalo. Mas antes que ele chegasse, ela pulou do alazão, dizendo que não havia necessidade, pois seu cavalo era tão bem educado que se abaixava para ela desmontá-lo e vinha sempre que ela dava o comando. Então todos entraram na igreja; mas não havia viva alma que escutasse o que o padre dizia, de tanto que olhavam pra ela; e o Príncipe sentiu-se ainda mais apaixonado do que da primeira vez que a viu.
Quando o sermão terminou, e ela deixou a igreja para ir montar em seu cavalo, o Príncipe a abordou novamente, e preguntou-lhe de onde ela teria vindo.
‘Oh! Eu sou de Toalhândia’, disse a Filha do Rei; já ia embora, mas deixou o chicote cair no chao. Gentilmente o Príncipe o pegou e entregou para ela, que disse:
Brilhante antes, mas sombrio ao conhecer,
As nuvens no vento à rolar;
Que este Príncipe jamais saibas,
Pra onde meu alazão irá me levar.
E assim ela se foi novamente; e o Príncipe não podia dizer o que tinha acontecido com ela. Perguntava para todos se sabiam onde ficaria a Terra de onde ela teria vindo, mas ninguém sabia respondê-lo; ele tinha feito o melhor que pode para encontrá-la.
No domingo seguinte, alguém precisava levar uma pente para o Príncipe. Katie implorou para cumprir tal tarefa; mas todos a relembraram como ela havia se saído da última vez que foi atender um desejo do Príncipe e a repreenderam por querer estar novamente na presença do Príncipe. — tal assombração escura e imunda ela era, com seu capuz de madeira. Mas ela insistiu e lhe foi dada permissão para levar o pente para o Príncipe. Mas, enquanto subia as escadas, chacoalhando seu capuz novamente, o Príncipe apareceu, tomou o pente de sua mão, atirou-o nela e pediu que ela fosse embora o mais rápido que pudesse. Depois, o Príncipe se dirigiu para a igreja, e Katie pediu permissão para ir também. Eles perguntaram-lhe, novamente, o que tanto ela queria ir fazer lá, uma vez que era tão maltrapilha e imunda, e não tinha nenhuma roupa que a deixasse apresentável. Mas ela disse que não deixaria de implorar até que permitissem que ela fosse à igreja.
Então, aconteceu naquele dia, o mesmo que tinha acontecido das duas últimas vezes. Ela bateu na parede de pedra com o cajado, o homem apareceu, deu-lhe um vestido e este era tão belo quanto os anteriores. Era quase todo de ouro puro, cravejado com diamantes; foi-lhe dado também uma nobre montaria, com sela e esporas de ouro.
Quando a Filha do Rei chegou à igreja, o Padre e o povo a aguardavam no jardim paroquial. O Príncipe também estava lá e queria ajudá-la a desmontar do cavalo, mas ela pulou dele e disse:
‘Não, obrigado — não há necessidade disso, meu cavalo é tão bem treinado que ele sempre para quando uso minhas esporas nele.’
Então, todos entraram na igreja, e o Padre foi até o púlpito, mas ninguém prestou atenção no que ele dizia; todos olhavam para ela, e imaginavam de onde teria vindo; e o Príncipe, ele estava ainda mais apaixonado, do que nos dias anteriores. Ele não tinha olhos, ouvidos ou senso de nada, além de sentar e olhar para ela.
Assim, quando o sermão terminou, a Filha do Rei já ia deixando a igreja, mas o Príncipe colocou um pequeno barril vazando na varanda, para que ele pudesse vir e ajudá-la à passar por cima da poça que se formou; mas ela não se importou com a poça — pulando sobre ela; porém, um de seus sapatos dourados caiu no meio da poça, e ficou preso nela. Ela montou o cavalo, e o Príncipe veio correndo, para perguntar de onde ela teria vindo.
‘Sou da Pentelândia’, disse Katie. Quando o Príncipe quis pegar seu sapato dourado, ela disse,
Brilhante antes, mas sombrio ao conhecer,
As nuvens no vento à rolar;
Que este Príncipe jamais saibas,
Pra onde meu alazão irá me levar.
Então o Príncipe não soube o que aconteceu com ela, e passou um bom tempo andando pelo mundo, perguntando onde ficaria ‘Pentelândia’; mas quando ninguém soube dizer pra ele onde ficava Reino tão misterioso, ordenou que todos soubessem que ele se csaria com a mulher que pudesse calçar aquele sapato dourado.
Assim, muitas pretendentes apareceram, de todos os cantos do mundo, belas e feias, mas nenhuma delas tinha um pezinho tão delicado que pudesse calçar aquele sapato de ouro. E após um longo, longo tempo, quem apareceu por aquelas bandas foi a própria madrasta de Katie e sua filha feiosa. O sapato coube-lhe bem, e o Príncipe a achou tão horrorosa, que manteve sua palavra apesar de essa não ser a sua vontade. E assim foram preparados os festejos do casamento real, a filha feia da Madrasta de Katie já estava vestida de noiva e ambos já estavam em suas carruagens, indo em direção à igreja, quando um passarinho, pousado em uma árvore, cantou:
Com o calcanhar de fora,
O sapato fora mal caçado;
O sapato minúsculo de Katie Capuz-de-Madeira,
Pelo que sei, está todo ensanguentado.
Então, todas as servas e mulheres da corte tentaram calçar o sapato, mas em nenhuma delas o calçado caia bem.
‘Onde está Katie Capuz-de-Madeira?’ perguntou o Príncipe, quando todas já tinham tentado calçar o sapato, pois entendeu a canção do pássaro muito bem, e tudo que ele cantou ficou gravado em sua mente.
‘Oh! Ela não vai querer vir!’ disseram; ‘não caberá nela, porque tens pernas e pés como os de um cavalo.’
‘Verdade, Eu diria’, disse o Príncipe; ‘mas como todas as outras tentaram, Katie deves tentar também.’
‘Katie’, ele chamou, da porta; e Katie veio, subindo as escadas, e seu capuz de madeira chacoalou alto, como se todo um regimento de dragões tivesse se preparando para a guerra.
‘Agora, você deves tentar calçar esse sapato, se lhe couber, se tornará uma Princesa,’ disseram-lhe as damas da corte, rindo e fazendo troça dela.
Mas Katie calçou o sapato que lhe serviu, como se tivesse sido feito sob medida, depois tirou seu capuz de madeira; estava vestindo seu vestido dourado, que brilhou como se os raios de sol viessem dela. Em seu outro pé, o outro sapato que formava par com aquele que estava na posse do Príncipe.
Então, quando o Príncipe a reconheceu, sentiu-se feliz, foi até ela e a abraçou, dando-lhe um beijo; e quando soube que ela era a Filha do Rei, ficou ainda mais feliz, e depois os festejos do matrimônio real recomeçaram.
Assim termina a história.
FIM
Fonte: fairytalez.com
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